sábado, 3 de maio de 2008

Dói!

Minha tentativa de definição hoje pro sentimento de ser mãe passaria por algo assim: dói, meu deus, dói muito. É tum-tum-tum na porta o tempo todo. Mas eu não tô falando em dor, tô falando em sentir algo doendo - o que me parece poder ser sutil mas substancialmente diferente. Com doer quero dizer a sensação permanente de algo agudo latejando, da cabeça aos pés, do lado de dentro e do lado de fora, acusando sem trégua sua presença, sendo urgente, sendo pra ontem, sem chance de passar, sem cura. Esqueça, o bicho do amor louco te pegou, cravou a unha bem no meio do seu peito. O feeling é esse, que adoeci e que não tem mais jeito, viverei na palma da mão dessa doença boa que me sustentará. Não consigo mais me imaginar normal, tranqüilinha, bonitinha, assentadinha (nem infeliz, diga-se de passagem). Algo em mim desalinhou, encostou no infinito. Parece que, ali na sala do parto, acabei ouvindo um sussurro da vida com a vida que não podia: mais uma filha, mais uma louca que nascem (o par só pode ser esse, filha-e-louca; mãe-e-filha é puro disfarce). Tenho me lembrado muito das paixões da adolescência. Acho que já até coloquei isso antes aqui. Tem muito a ver: aquela certeza que o ar vai acabar se ele não olhar pra cá agora, se ele não entrar imediatamente por aquela porta, se esse bendito telefone não tocar. Pois é, filha, olha onde você foi colocar sua mãe. Do lado de fora do mundo, embolada neste tecido de que é feito a gente. Um lugar onde não existem mais as palavras, só esse tum-tum-tum do meu coração inteirinho dentro do teu.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

É tudo junto ao mesmo tempo

Todos os comentários que recebo, aqui ou pelo meu email, são pra mim maravilhosos. Só me confirma cada vez mais como a comunicação (verdadeira) com outra pessoa pode ser fantasticamente curativa. Mas o último comentário da Dani Guima vai ter que virar post - eu preciso ler isso aqui todo dia! Fundamental cair essa ficha do que ela escreveu sobre não haver linearidade em nada. Realmente, parece haver uma certa "obsessão classificatória" nossa, meio infantil, muito da equivocada, responsável por confusões férteis na nossa cabeça. É como se tudo ao nosso redor fosse possível de ser classificado em "bom" ou "mau", "feliz" ou "infeliz", "quero" ou "não quero". Acontece que a vida, na sua profunda riqueza, brinca com isso, misturando na química das coisas elementos aparentemente antagônicas. Quando a gente percebe que quer ser bom, mas também é mau; que uma pessoa importante pra gente tem suas coisas lindas e outras insuportáveis (e que nenhuma relação precisa terminar por causa disso); que um amor por mais lindo que seja é também sempre controverso etc. alguns nós difícieis de dentro da gente parecem ir sendo desatados... Sabe viver bem, acho, exige também isto de nós: é preciso saber mergulhar a alma de cabeça nas experiências em si, esquecendo de classificá-las, esquecendo de seus rótulos possíveis (leia-se, necessidade de entender)... Aí vai o tão lúcido post: (Valeu, Dani!)

Bia,
a minha experiência pessoal tem me dito que não dá para apressar em aprender logo a lição... faz parte a gente se sentir assim, meio que roubadas da nossa individualidade e egoísmo. E isso dói. Mas aí, no minuto seguinte, recebemos um super sorriso banguela e ficamos embriagadas de recompensamento. Acho que não existe uma linearidade - seremos super felizes de ser mães, ou super tristes de ter perdido as delícias da vida sem filhos. Tem um pouco de tudo nisso daí, a gente curte um pouco, lamenta um pouco, viaja quando dá, deixa com a vovó e toma um fôlego bom e volta para casa morrendo de saudades... é tudo junto ao mesmo tempo. Desisti de me sentir só bem sobre ser mãe, sabe? Assim como não dá para se sentir só feliz de sermos casadas com nossos maridos, ou 100% sobre nossa escolha profissional. O lance é ir passeando por essas situações sem se colar muito nem com as coisas boas, nem com as coisas ruins. E curtir o momento presente! Seja com ou sem nossas pequenas por perto! :D
Beijo grande para você, Bia!