sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Tendo falado em azedume...


É foda ter um bebê em casa. Aliás, acho que isso é uma das únicas coisas unâmimes dentre nós, este vasto mundo palpiteiro. É foda: foda de muito-muito-bom, pois nos dias bons é bom demais - bom de você achar que o coração vai dar um pinote e parar de tanta doçura e amor na vida. E é foda de muito-muito-ruim, porque tem muita angústia pelo caminho.
E hoje é um desses dias de angústia pra mim. Acabo de acordar parecendo que saí de um ringue de box. Nem é que a noite tenha sido tão ruim assim - pra ela. Pra mim, tive, como tenho tido, insônia, coisa antes que desconhecia. Acordo pra acudi-la 2, 3 vezes por noite por 30, 40 minutos cada vez e deixo de dormir as próximas 2 horas, rolando na cama, esperando com a barriga gelada pelo próximo grunhidinho da fofa ao lado.
Mil coisas na cabeça... "Meu leite vai acabar, tô sentindo, o peito já não estufa (e eu não vou nunca mais ver esses olhinhos de farol desse ângulozinho privilegiado da mamada que é só meu?!); quem mandou dar complemento? Idiota, devia ter insistido mais só com o peito... Será que a dor de ouvido é por causa da água que deixo entrar no banho? Todo mundo já tinha me avisado... E esse nariz entupido? Ah, não, não vou deixar ela dormir no bebê-conforto como mandou a médica, não, é horrível! E a fralda suja e a blusa golfada que eu ignorei? É que se trocasse ela acordava e eu não queria que ela acordasse tão cedo (la-puta-madre-desnaturada)..."
Tem dia em que sou valente. E boa pro negócio. Pego a batuta e vou feliz pra regência desse mundinho de Manú. Tudo vai acontecendo engatilhado e em harmonia. Acabo o dia tomando com o pai o nosso vinhozinho e lhe contando o quanto ela é um anjo e o quanto eu e ele somos as pessoas mais sortudas do planeta.
Mas tem outros tantos dias em que o bicho pega e eu saio, como ontem, chorando do consultório da pediatra. "Não é nada não, Drª, não sei explicar; juro que não tô triste; juro que não tá sendo tão difícil assim; mas, fazer o quê, essa palavrinha mágica que a senhora tá pronunciando aí o tempo todo - Manuela - tem esse poder de abrir as comportas dos meus canais lacrimais... Deve ser inveja, é isso, inveja dela: eu acho que também queria deitar aí nessa sua maca, ver papai me adulando, receber esses sorrisos todos seus e depois ir direto pro colinho da minha mãe..."
Falando em colinho, a princesinha acordou. Que bom, tava com saudades... (e culpa pela fralda suja e a blusa golfada das 4 da manhã...). Deixa eu ir lá. Quem sabe hoje não é dia de concerto?
ps: ao lado vai foto da bela com o Jujú, maior das testemunhas das minhas angústias noturnas...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Manú com acento (parte II)


Baquero, amigo de antiga data e longa caminhada (ou longa data e antiga caminhada...), respondeu ao post anterior com o email abaixo, que de tão gostoso precisava vir pra cá. Aproveito pra botar mais uma fotinha da (insone) Manú e o dono da bola, o Pai.


Querida Bia, imagina o que seria da nossa expressão emocional sem a liberdade de burlar as regras da nossa querida linguística. Já vai longe o dia em que a gramática impede a livre demonstração de nossos desejos e paixões. Você fala o que você quer, da forma que bem entende. No final das contas o coração é o expert gramatical das palavras da alma.

- Manu !! - chamou a mamãe Bia - Vem aqui!.
- Já vai, mãe - Gritou, lá do outro lado da sala, mergulhada em um livro de historinhas.
- Manuuuu !?! Vem logo que eu tô te chamando. - retrucou a mamãe, acrescentando alguns "us" só para dar ênfase.
- Pera aí manheeeee!!!
- Manú, vem que seu pai quer falar com você. - Esbravejou, acentuando no final, com a urgência da presença requerida.
- Biááá ! Cadê essa menina?
- Ai, ai, ai, ai, ai !! Manu-é-la. Larga já isso aí e vai falar com o seu pai.
- Tá bom dona B-í-a. Já vou. - saiu batendo os pezinhos pelo chão da sala - Que foi pai?
- Nada não minha linda. Só queria te dar um beijo. - respondeu com um sorriso.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Manú com acento




Fui informada pela minha letrada amiga Aline que Manú, assim como caju e angu, não tem acento no "u". Confere no dicionário: caju tá lá sem nem sombra de acento. Ui, e eu que escrevo caju há uns 25 anos "cajú". Com "Manú" só lido há alguns meses, mas, poxa, é o nome que dei pra minha filhota; deveria ter tido um pouco mais de capricho pesquisando antes direitinho a grafia correta, né. (mãe realmente consegue sentir culpa com tudo)
Em minha defesa, respondi perguntando a ela se com nome próprio não haveria uma certa licença poética, podendo-se gramaticalmente tudo, ao que ela respondeu que poder pode, oras bolas, você-é-a-mãe, mas que tá errado tá.
Encasquetei com o tal acento. Treinei no papel Manu Manu Manu Manu. Tão feinho... O nomezinho dela ali chapadão no papel sem nenhum denguinho, um charminho, uma coisinha a mais, o grampinho da vovó. Ali, direto, pá-pum, geladamente correto e obediente; só as quatro letrinhas, sozinhas, soltinhas, correndo o risco até de um desavisado botar a tônica na primeira sílaba e achar que se trata dos "manu" paulistas.
Resolvi. O acento, mesmo errado, fica. Pois, sabe de uma coisa, filha, pelo menos enquanto você couber no meu colo, eu não tô aqui muito pra outra coisa mesmo que não arrendondar o quanto puder esse mundo cheio de quina pra você, me assegurar que o cinza da vida fica de castigo do lado de fora da nossa casa e que todos os reinos da princesa de dentro de você se mantenham, o máximo que der, firmes de pé. O azedume da vida vai bater na sua porta inexoravelmente um dia, não há dúvida. Mamãe, por enquanto, não precisa antecipá-lo, nem mesmo tentar te preparar (há mesmo preparação que atenue?).
Tá decidido. Mamãe vai ser a guardiã dos enfeites da sua vida, a começar pelo seu acentozinho. (mãe realmente consegue filosofar com tudo)
ps: Alinis, nada contra a sua correção. Ao contrário, você sabe que você é a minha "editora de texto" mais que preferida!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Nascendo... (dessa vez, o blog)




Já tentei, mais de uma vez, ter blog. Alguns sabem. A vontade sempre foi a de divertir escrevendo, desembuchar, fiar as palavras pra desembaraçar as idéias, quem sabe. Queria, mais que tudo acho, driblar a vida-doida-corrida inventando mais um jeito de me sentir perto dos caros da minha vidinha (e muito provavelmente meus únicos leitores). Por preguiça, enrolação, jeito-de-ser-fogo-de-palha ou razões inconscientes mais interessantes, nunca dava certo e a coisa miava. Até que hoje tento de novo. E acho que agora vai. A razão do otimismo é esse serzinho que, há exatos 45 dias, desembarcou aqui em casa. Nossa protagonista, a Manú. Esses 4 kilos e meio distribuídos hoje em 55 cm, e tanto mais, que, roubando a extensão quase toda do meu tempo (como assim um blog, então?), sem contradição nenhuma, o vem aprofundando feito mágica, abrindo espaços em que tem cabido a vida inteira. Inclusive um blog - se é que é pra nos ligar mais e melhor. Então lá vai!