segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


Há algum tempo surgiu essa conversa entre amigas:


Que filho precisa do amor de seus pais pra que fique tudo bem, ninguém discorda. Mas que precisa também ser um tanto esquecido por esses mesmos pais, poucos atinam (ou admitem).

A negligência, claro, escandaliza mais. Não podia ser diferente; suas conseqüências são indiscutivelmente terríveis e odiosas. Além de mais óbvias. Mas o exagero na atenção também causa seus males - talvez não menos terríveis.

O amor - ou a paixão, melhor dizendo - parece sempre caminhar na borda desse precipício: o perigo da febre desmesurada pela outra pessoa. Febre que não perdoa e vem sempre mofar o relacionamento: é inevitável faltar ar. Acontece toda hora no amor-romântico. Mas, repare bem, acontece também muito entre pais e filhos.

Tenho visto ser muito fácil, mas muito fácil mesmo, passar da dificuldade em lidar com a novidade de se ter um filho para a total obcessão por ele. Quer dizer, nem sei se a relação é a de sucessão mesmo entre uma coisa e outra; escrevendo agora, me pareceu mais capaz de ser uma coisa conseqüência da outra... Sei lá, o fato é que é daqui pra ali que a gente se enfia nesse enredo fadado à dor - nossa, do filho, da família.

O negócio é que amar alguém (ou pelo menos conduzir esse amor para a construção de uma coisa legal) implica em muito mais que não só "consumir" o outro ou se "consumir" para o outro. Exige que solidões, espaços, vãos sejam abertos, cedidos, dados de presente. Mesmo que dê cócegas, saudade, vazio, carência, ciúme. É a antiga lição: quem ama deixa livre! Não é fácil. Pede consciência, treino, recomeços, perdões. Parece que nossa tendência natural é só ter dois botões mesmo: liga 100% ou desliga 100% em relação a essas que são as pessoas essenciais da nossa vida (desliga?!). Continuar 100% mas, freqüentemente, descansar (e deixar descansar) no modo "poupando energia" é uma sabedoria a ser aprendida.

Em certas circunstâncias, isso é relativamente tranqüilo pra mim. Mas, em outros vários momentos, preciso fazer uma força danada pra "abandonar" Manú e deixá-la se ver um pouco sozinha com sua própria vidinha. Tenho convicção ser esse o caminho sadio. Não posso estar o tempo todo com ela, ter toda a minha atenção, meu prazer concentrado nela. É ruim pra mim; é péssimo pra ela.
"Preciso mostrar pra Manú que a vida é boa", foi uma frase que soltei outro dia e uma amiga minha tem sublinhado pra mim de vez em quando. Acho mesmo que essa seja uma das minhas maiores obrigações com minha filha. E pra isso eu preciso estar ligada no mundo, nos prazeres que ele traz, na vida afora a nossa. Preciso "esquecê-la".
ps: segue fotinha da dona do pedaço, que, a essa altura, já dá gargalhadas!

3 comentários:

Mariana disse...

AMO VOCÊS DUAS UM MONTE!!! QUE SEJAM,ENTÃO, ESQUECIDOS NOSSOS FILHOTES,PRA QUE SEJAM MAIS INTEIROS, PRA QUE TENHAM MÃES MAIS INTEIRAS!

Dani Guima disse...

Que bela sabedoria nesse texto!
É tanta lição que esses bebezinhos trazem para a gente, né? O grande lance, Bia, é lembrar que 'nossos filhos não são nossos filhos. são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma'. Não canso de repetir essa frase, porque precisamos mesmo nos relembrar disso. Somos apenas tutores para os primeiros anos dessas almazinhas aqui no planeta-escola!
Vamos vivendo um dia de cada vez, deixando-as estabelecerem novas relações, novos afetos, novos contatos. Certamente saberemos encontrar o equilíbrio!
Parabéns por tudo!
Bjs, Dani.

Renata Guerra disse...

Quem dera tivesse eu lido esse comentário há mais ou menos três anos atrás ...
Longo é esse nosso amado caminho de aprender a ser mãe, mulher, gente com outras vontades que não seja só maternar ... Difícil admitir ter outras vontades, difícil largar dessas coisinhas tão maravilhosas, que só nos trazem felicidade ...
Os filhos crescem, mas continuamos a querer passar o tempo todo com eles, mas é nosso dever deixá-los viver e lhes mostrar o quanto a vida é boa, não é mesmo???
Esses dias, Isaac já indo para escola e eu pensando que já não mais compartilho todos os minutos do dia dele ... Ele está crescendo ...