quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ruiva?!




Manú anda com um quê de ruiva. Nunca na vida poderia imaginar ter uma filha ruiva (tudo indica que o castanho prevalecerá, mas que por enquanto tem um arzinho de ruiva, tem, olhe só a foto aí).

Pensando nessa pequena excentricidade da mocinha, lembrei de uma coisa que passava muito pela minha cabeça na época da gravidez e agora, com a Manú aí, anda meio esquecida.

Nas cem milhões de vezes em que eu ficava imaginando quem era essa pessoinha que estava crescendo dentro de mim, me vinha o quanto eu não tinha o menor controle sobre isso. Com exceção de alguns extremos (um negão ou uma japa certamente dariam causa a um divórcio aqui em casa!), qualquer, absolutamente qualquer, "tipo" de pessoa poderia estar ali germinando em mim. Não só fisicamente, mas, principalmente e muito mais importante, em termos de personalidade, jeito de ser, gostos, talentos, fraquezas, problemas, até caráter. Claro que a criação da gente faria muitíssimo por ela; mas com certeza grande parte das suas tendências viria mesmo é de fábrica.

Tentava, então, concatenar este fato com outro, muito certo de acontecer também: o de que eu seria louca de amor por essa criatura "x", fosse quem fosse. Até se for chata, ranzinza, puxa-saco? Arrogante, fútil? Preconceituosa, vazia? E se detestar viajar, fazer amigos, ser mentirosa, egoísta? Não, não é possível que esse amor vá ser tão incondicional assim quanto dizem... Sim, é possível, não havia dúvida: minha filha - qualquer filha - seria um dos grandes amores da minha vida.

E aí me vinha isso de que um dos maiores "serviços" que essa criança já estava me fazendo era o de me abrir pra um amor e uma tolerância muito maior para com o gênero humano em geral; me ajudar a fazer de vez uma ligação direta entre humano = digno de amor, e ponto, sem mais as premissas dos qualitativos e medições.

Imagine só, essa menina antipática e estressadinha aí da porta ao lado, minha filha bem pode vir a ser igualzinha a ela. A que trabalha comigo e eu não vou com a cara de jeito nenhum. A chefe que eu não suportava. A idiota que me fechou no trânsito. A amiga que me alfineta me tachando sempre de louca de um jeito malicioso. A irresponsável. A ríspida. A ministra que rouba dinheiro público no cartão corporativo. Ainda que me ocorra "a Manú não vai ser assim, a gente vai tentar ensinar isso a ela, dar o exemplo daquilo", no fundo sei que mesmo as "melhores" educações podem dar muita zebra e que então qualquer dessas pessoas poderia muito bem sair da minha barriga.

E sendo minha filha, certamente eu iria amar e tolerar de toda maneira. Aliás, tirando os casos mais raros de séria negligência, mesmos as pessoas mais "erradas" do mundo têm/tiveram essa personagem central na vida, a mãe (ou quem quer que lhe tenha dado esse amor primeiro que nos estrutura); todas foram enxergadas, são enxergadas, por alguém(ns) para além de suas imperfeições e barbeiragens. Esse olhar diferente sobre elas existe em algum lugar. E saber disso faz com que automaticamente a gente as espreite um pouquinho desde esse ângulo mágico de suas mães, o ângulo de um amor maior.

Pode-se pensar que a mãe está tão egoicamente atada ao filho, que, pra não se desintegrar, cega-se à sua natureza, varrendo todo o lixo que vê bem pra baixo do tapete. Pode ser. Chuto, no entanto, uma hipótese mais "polianesca": quem sabe às mães (e pais - leia-se sempre), ao ser dada a hercúlea tarefa de tocar vidinhas pra frente, também não é dada, como instrumento para tanto, uma compreensão da natureza humana mais integral, rica e profunda do que a que rola aí na lógica rotulante e classificatória desse nosso mundinho. Uma compreensão que escancara as asas destes homens e mulheres pra que, debaixo, venha a caber qualquer pessoa: pretinhos, moreninhos, amarelinhos, branquelinhos... e ruivinhas! (=

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008




Sua filha também é filha do seu marido, neta da sua mãe, sobrinha da sua irmã, do seu cunhado, vizinha do seu vizinho, afilhada dos padrinhos dela, prima dos seus sobrinhos, "sobrinha" dos seus amigos, trabalho da sua babá, cliente do seu padeiro - e até neta da sua sogra ela também é! (=


Que me perdoem a obviedade (e a alfinetada na sogra...), mas sinto que o real significado desta simples constatação aí em cima pode demorar séculos pra se evidenciar pra gente. E, até lá, muita neura pode pintar.


Conversando outro dia com uma amiga, ela disse um negócio muito bonito que eu até já tinha tido a sensação e ouvido do pai, mas ainda não tinha conseguido eu mesma botar em palavras. Algo mais ou menos assim, que se ela acreditava mesmo que sua filha era, mais que sua filha, filha da vida (e ela acreditava), a decorrência lógica é que todo o mundo, em maior ou menor grau, compartilhava com ela um pouco da responsibilidade pela filha e, mais, do direito de tê-la ocupando o espaço dela em sua vida. E a gente, mãe, tem que permitir isso; não só permitir mas, enquanto se tratar de uma menininha sem muita vontade própria, incentivar, promover mesmo.


Pode parecer exagero imaginar quem assim não haja, mas não é. É muito comum a gente tomar o filho pra si e passar a tratá-lo como um seqüestrado, mediando o contato dele com o mundo inteiro com um cuidado pra lá de excessivo.


Muitas razões pra isso: falta de confiança nos outros, vontade (e pretensão) de protegê-lo de tudo, ciúmes, possessividade etc.


Comigo aconteceu um pouco disso. E o meu problema - vai entender - era pena. Bastante esquisito. Eu me pegava morrendo de pena de todos que dividiam comigo a lida com a Manú. Começava, claro, pelo pai. Eu deixava os dois sozinhos e já começava a pensar: "coitado, ela vai chorar! E ele não vai saber o que fazer! E vai ficar angustiado, cansado, deprimido até! Ai-meu-deus, deixa eu ir logo com esse banho!". De madrugada, quando ele não acordava espontaneamente, eu nem cogitava acordá-lo - "coitadinho, deixa dormir, já basta eu exausta!". (Um parêntesis aqui. Essa coisa de afastar o pai da história é bastante comentada. Mas sempre se diz que o motivo é achar que ele não vai fazer as coisas tão bem quanto você. No meu caso, juro, ao menos conscientemente, não era nada disso. Aliás, minha auto-estima como mãe demorou tanto pra se erguer que eu sinceramente achava que quase qualquer outra pessoa ia saber cuidar dela melhor do que eu. Eu tinha era essa coisa de ter pena.)


E não era só dele. Da minha mãe. Só deixava a Manú com ela se estivesse dormindo e eu tivesse razoável certeza que ia continuar assim enquanto eu não voltasse. Da babá. Paga pra isso, acostumada com a coisa e distanciada emocionalmente. Mesmo assim, vivia saltando uns "coitada!" na minha cabeça quando deixava ela correr na minha frente pra acudir um choro.


Não é tão difícil de entender o processo: eu devia era estar morrendo de pena de mim mesma e essa pena transbordava sendo projetada nos outros. Ok. Fácil de ver; difícil é mudar.


Um dia o pai me falou: você tem que pensar que as pessoas também têm o direito e a "obrigação" de experimentar a Manú e ter com ela as suas próprias ondas. É nossa filha, mas é também a netinha da sua mãe, do meu pai, do seu pai, sobrinha da sua irmã etc. Se ela está com eles e chora, não dorme, fica doente, dá trabalho, eles têm que tirar deles próprios um jeito, só deles, de consolá-la, de brincar com ela, de cuidar dela. Mesmo que seja com a melhor das intenções, você não tem o direito de negar isso a eles e, especialmente, a ela. É a construção da relação deles, que nada tem a ver com a gente, que está em jogo.


Verdade. É engraçado perceber que essas pessoas realmente têm seu próprio interagir com ela e às vezes pensam e fazem coisas maravilhosas que dão super certo e que, mesmo eu, que fico matutando sobre ela e seu comportamento o tempo todo, não tinha ainda atinado. E, quando nada, eles trazem pra ela o frescor de quem não está com ela o tempo todo, o que a embanha em energia boa. Ótimo pros dois.


O fato é que a vidinha de nossos bebês já são tão facetadas quanto podem ser as nossas. Eles já têm seus próprios papéizinhos no script da vida de uma porção de gente. E temos a responsabilidade (mais uma) de propiciar clima pra que isso se desenvolva! A experiência humana sadia é sempre múltipla, vária. A vida que se resume muito (numa pessoa, num ambiente, num papel só) empobrece perigosamente.


ps: Na foto Manú e parte de sua tchurma.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


Não é mais ir ao cinema. Nem a mais animada das festas. Um show, nemmmm. O imbatível comer bem. Caminhar por aí. Não... Tem perdido até pras melhores rodas de cerveja ou os blasés momentos de um vinhozinho. Nada disso. Tenho que admitir que meu programa predileto agora é encontrar as mamães amigas e passar a tarde inteira falando, falando, falando, tagarelando, papagaiando, escarafunchando cada cantinho dessa tal maternidade! Eu sei, eu sei, soa meio mal, pequeno, bastante paranóico e totalmente bitolante. Mas pra ser sincera... Então lá vai foto de uma dessas deliciosaaaaaaaaaas tardes em que conheci Helena, uma semaninha só mais velha que Manú, filha da Raquel, amiga lá dos cafundós do Maristão. Gostoso demais!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Viva João!

Dividindo coisa linda com vocês, ainda na alegria do nascimento do filhote da Mari, o João.
Carta de Hélio Pellegrino a Otto Lara Resende falando do nascimento da filha dele.

"Otto, meu querido amigo,

Nasceu Maria Clara, minha filha. Ela nasceu no dia 26 de novembro, tem alguns dias, portanto. Não lhes comuniquei nada, por enquanto, porque os fazia participantes silenciosos e solenes do Acontecimento. Há fatos – de preferência os mais irredutivelmente humildes – cuja verbalização é como que uma confissão de fraqueza, de isolamento e solidão. Sei que é assim mesmo, que nós, os homens, estamos por natureza impedidos do conhecimento sem palavras. Mas por sobrenatureza nos comunicamos, na Comunhão dos Santos, e esta é a razão por que os senti comigo no banquete da Efusão, do Mistério e da Humildade, quando do nascimento de minha filha. Aliás, o acontecimento é de tal maneira perfeito, exemplar, de tal maneira está pré-formado na sua antiguidade antiguíssima, que nada há que falar, assim como nada se fala quando a noite sucede o dia, quando as estações se sucedem ou quando os Mistérios da Vida e da Morte nos colhem de repente. Não estou comunicando a você o nascimento de minha filha. Que entre nós, sábios de amizade, se dispensem os cerimoniais humanos e se cedam ao signo e ao símbolo da própria Vida, que é calada. Para você, como minha filha é antiga! Como você a conheceu, sempre, em mim, na força de minhas contradições que buscavam expressão, na poesia de meus poemas, na minha crença em Jesus Cristo , na minha amizade, na minha tristeza, na minha vida! Ela era esperada, ela existia no meu Amor, nesse mesmo Amor que nos levantará da poeira dos tempos e nos suscitará a Unidade perene. O nascimento de uma filha é como o nascimento de um poema. E a poesia existiu anterior a nós mesmos, pairou sobre as águas, no princípio do mundo. Eis que conto para você uma velha história: nasceu minha filha. Ela se chama Maria Clara. Ela por um momento teve o mundo nas mãos, e os campos e os seres da terra se alimentaram de usa inocência. O pai, por um instante, vive seu coração nu, no berço, despido de tudo quanto é acessório, pequenino, fragilíssimo, ainda perfumado, sonolento e saudoso das searas eternas. Você, que tem minha amizade, será o padrinho de minha filha."

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O tamanho da ajuda que você precisa


No meio do caminho da maternidade tem uma pedra - uma não, um monte, mas há uma especialmente penosa: as babás. Não me refiro à busca por uma boa, às dúvidas de qual esquema montar com ela, ao incômodo de conviver, mais perto do que nunca, com os abismos de oportunidades sociais/econômicas tão injustas etc. Mas, antes, falo da angústia que dá a questão de se assumir precisar ou não de ajuda (remunerada) pra cuidar da sua cria; ainda mais no começo; ainda mais durante a licença-maternidade.

Nessa história, a toda hora sobe do ralo o cheio de carniça das recriminações e, claro, da culpa, muita culpa. Ainda assustadoramente muito forte por aí falas do tipo "eu é que não botei filho no mundo pra babá criar!", "ah, deixando na mão de babá é fácil ter filho!".

Na minha modesta opinião, são estas frases mal-construídas e que dão margem à muita confusão na cabeça da gente. Desnecessária e sofrida.

Primeiro que criar um filho há de ser algo bem além de dar banho, vestir, trocar fralda, levar pra brincar, dar comida, velar sono. Tudo isso, claro, faz parte, ainda mais se tratando de um recém-nascido, mas o cerne do negócio é, intuo, outra coisa. Criar tem sim a ver com prestar cuidados concretos, mas principalmente com dar amor, aconchego, limites, orientação, aceitação, presença (muitas vezes não necessariamente obreira).

Temos que admitir, e respeitar, a existência de grandes mães e pais, cheios de amor pra dar e talento pra formar serezinhos muito bacanas, e que, por um motivo ou outro, vão precisar delegar, em maior ou menor grau, essas funções.

Segundo que ter filho, acho, não precisa ser imprescindivelmente uma coisa difícil ("com babá é fácil ter filho!"), precisa? Normalmente já vai ser duro e ralante de qualquer jeito, mas isso é pra ser minimizado e não cultuado, não?

Enfim, mais uma vez tá aí uma cultura que, criando rótulos e reduções, embota a capacidade de cada um de, a partir de si e do seu possível, pensar e encontrar sua própria forma, só sua, de fazer suas coisas e levar sua vida.

Quem é esse bebê que chegou? Exige muito ou nem tanto? Mama e dorme ou arde de cólica? Dorminhoco ou insone? Quem é você-mãe? Ou melhor, que mãe você pode e você quer ser? Tem facilidade pra cuidar dos outros? Tem pouco sono ou precisa dormir muito? É tarada pelo trabalho ou nem pensa nisso? Tem uma vida intensa fora de casa ou é naturalmente caseira? Até que ponto quer/precisa mudar? Até que ponto consegue, de um modo sadio, se sacrificar? Quem é o pai? Está ao lado? Entendeu que é pai ou viaja achando que o problema é mais seu? E a sua família? É gente próxima, que vai botar a mão na massa com você, ou indisponível, inexistente até?

No meu caso, eu morria de medo dessa parte operacional da maternidade. Meu contato anterior com RNs era praticamente zero. O pai idem. Tinha medo de coisas simples, como dar um banho ou ninar pra dormir. Tinha pânico, principalmente, dela chorar demais, dela não dormir, de eu pirar, sufocar com tanta responsabilidade e indisponibilidade.

Contratamos uma auxiliar de enfermagem, a Vera. Era pra passar um mês e acabará, no fim desse mês, passando três e meio. Pra gente (como somos, nossas famílias, nossos arranjos) foi fundamental. Mas eu me senti várias vezes entupida de angústia até conseguir ajustar o tamanho da ajuda que eu queria. Eu não queria, não quero, ser coadjuvante na vidinha da Manú! Por razões nobres e outras nem tanto, quero o protagonismo (no máximo, dividir as luzes com o pai...)! Então, quando a Vera assumia, tinha o medo básico dela não cuidar tão bem quanto eu. Mas tinha, muito mais, horror à idéia dela cuidar da Manú bem melhor do que eu. Tiveram dias em que, acomodada, deixei demais com ela. Outros em que, por insegurança e preconceito, deixei de menos e acabei estrimbuchava sem necessidade.

Fui aprendendo...

Arrumei na minha cabeça que a Vera estava aqui pra me poupar de duas coisas (e com relação a todas as outras o problema é só meu e o do pai mesmo): da exaustão de se cuidar, sem trégua, de um bebê e da minha ausência perigosa nas coisas essencias da minha vida que não têm a ver com a Manú. Claro que aí o xis: o que é realmente importante e o que não é tão importante, mas capricho e relutância pra admitir que a vida mudou; e onde termina o cansaço típico e do qual não se deve escapar e onde começa o esgotamento que vai me deixar histérica e perdida. Caso a caso, fui tentando, venho tentando, me afiar cada vez mais nesse discernimento, achando o nosso caminho.

De qualquer jeito, presto aqui a mais que merecida homenagem à super Vera, que tanto ajudou no desabrochar dessa mãe aqui! Acima, retratinho dela com Manú.

sábado, 5 de janeiro de 2008

"Áudio-cassetada" materna...

Eu sabia que em algum lugar já devia ter ocorrido algo assim. Eis que minha irmã me conta a história verídica de uma conhecida dela:

Família em peso vem visitar recém-nascido. Neném dormindo. Depois de darem uma olhadinha no fofucho, pai, vovôs, titias, priminhos, vão todos pra sala do apartamento. Menos a irmã da mãe, que fica com ela no quarto do bebê, à beira do berço, e lhe pergunta: "e aí, já voltou a rolar?". Na sala, família ouve a frase e se entreolha procurando quem perguntou. Antes de entenderem quem está falando e de onde, vem a resposta: "ainda não, tô com medo de arrebentar tudo aqui dentro, não tenho também muita vontade... e o pior é que ele não se conforma... quer agora, então, que eu libere o fiofó...". Família começa a entender o que se passa e a virar os pescoços vagarosamente na direção do fiofó-hunter. Este procura desesperadamente a babá eletrônica e não encontra a desgraçada, que foi posta no alto da estante, no meio dos livros, onde a mãe tinha acabado de descobrir pegar melhor o sinal. Conversa segue: "O fiofó é foda, ainda mais no pós-parto, esses homens são mesmo uns incompreensíveis!". "Pois é, mas não vai ter jeito, dia desses vou ter que liberar!". Pai-homem-insensível, petrificado na sala diante do olhar de nojo de todos (menos do sobrinhozinho que, ao invés, não pára de perguntar pro avô "vô-o-que-é-fiofó?vô-o-que-é-fiofó? vô-o-que-é-fiofó?"), tenta seu último recurso que é ligar a TV no volume máximo de qualquer coisa que esteja passando. Com exceção do esgoelamento da TV, um silêncio sepulcral se instala no ambiente. Mãe-prestes-a-dar e irmã-curiosa-demais atravessam a sala, não entendem aquele clima de sheet no ar, mas vão direto passar um café na cozinha...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sumi!



Podia tranqüilamente botar a culpa nas festas de fim de ano que seria perfeito. Desculpa ou não, todo mundo parece ganhar uma certa moratória pra desaparecer sem ter que dizer muito o porquê nessa época do ano (não me contenho em exclamar que pena não ser bem assim o resto do ano, com o quê vejo o quanto essa história da (falta de) liberdade me é assustadoramente recorrente...).
Mas não é verdade. O fim do ano foi, pra nós aqui de casa, sem a cobrança da pirotecnia típica em razão da neném, ameno e fácil (e, talvez exatamente por isso, dos mais legais).
A verdade está no eixo desse blog: minha menininha. Tá tudo ficando tão bom, mas tão bom e só bom ao lado dela, que a necessidade de "caverninhas", como este espaço aqui, cedeu pra mim.
abobadamente apaixonada pela história de ser mãe (e eu que sempre senti nostálgicas saudades das paixões de adolescência... Mal sabia da força do que ainda estava por vir.).
Não me sai da cabeça aquele título do livro da mãe do Cazuza "Só as mães são felizes". Lembro quando li esse título em alguma prateleira de livraria. Me intrigou. Não só, me irritou um pouco. Achei meio limitado e puxando pra essa coisa careta de se achar que felicidade tem fórmula, com meia dúzia de acontecimentos imprescindíveis na vida pra ser considerada atingida.
E eis-me aqui confessando concordância com a frase. Com a ressalva da generalização, pois só posso falar da minha experiência, isso sempre. Eu é que honestamente nunca me vi tão feliz quanto agora, mãe.
Até que sempre me considerei uma sujeita feliz; os problemas topados por aí sempre estiveram na média e eu sempre senti um tesão danado pela vida, em suma. Mas, sem exagero, percebo agora que isso era um pálido rascunho de onde eu poderia chegar ou, melhor dizendo, onde ser mãe iria um dia me colocar.
Não é a Manú pela Manú. É o que ela abriu aqui dentro de mim. A imagem que me vem é de uma cachoeira do Iguaçu (acento?) represada por enormes e potentes muros que só deixavam escapar por entre uma ou outra rachadura um fiapo aqui ou ali d'água. Tudo bem que um fiapo da catarata do Iguaçu é água pra caramba - por isso, talvez, a sensação de que não era fiapo, mas uma razoavelmente volumosa fonte, bastante pra tudo. O fato é que esse muro desabou e, agora sim, eu descobri a força da catarata inteira que existia ali, atrás dos muros. É um amor, é uma vontade, é uma compreensão, é uma doçura, é uma sensibilidade inéditos, neste grau, pra mim. As pessoas, minhas pessoas, outras pessoas, meu mundo, outros mundos, todos estão mais coloridos, serenados, leves, simples, acessíveis, convidativos. O que é importante tem sido importantíssimo. O pequeno tem milagrosamente se recolhido à sua insignificância. O amor tá ocupadíssimo em só amar, sem muita ideologia nem delongas, amando pra valer e sem muita explicação. Como diz Zeca Baleiro, ando pensando em bater na porta do vizinho, mandar flores pro delegado, beijar o português da padaria.
É, sem dúvida, a melhor versão que eu já consegui tirar de mim mesma. Com certeza, em 13 de outubro passado não foi só Manú que nasceu... (=

ps: segue fotinha das duas próximas "felizes"...