sábado, 5 de abril de 2008

Estamos dodói...


Ela de bronquite. Eu do coração.
Que dó sem tamanho dessa pequenina criatura, tentando respirar, tentando dormir e tudo tão difícil, tão entupido! "Opa, quem foi que mudou minha vida assim de repente?", certamente ela pensaria se pensasse. "Eu ficava com sono, fechava os olhos e dormia, era só puxar o ar que ele entrava, não tinha esse nariz assado de tanto escorrer, essa tosse que a toda hora me acorda...". É, filha, vai se acostumando aos mistérios - ah, e às mudanças também. Esse aí é mole, daqui a um par de anos você entenderá direitinho; e a mudança é temporária, daqui a uns dias, com certeza, pulmãozinho e narizinho vão estar zero bala de novo. Complicado mesmo são os tantos outros inúmeros mistérios por aí, sem explicação nenhuma e trazendo algumas mudanças pra gente totalmente sem volta...
Bom, mas eu ia falar de outra coisa.
O diagnóstico de bronquite da Manú chegou a mim acompanhado. Junto com ele vieram, de surpresa, visitas ilustres: uma certa vergonha e uma considerável culpa. Fiquei impressionada com isso, de repente estava eu, além de preocupada com o problema em si, numa culpa, numa vergonha de ter a Manú doente. O que fiz? O que não fiz? Ok, culpa de mãe é o assunto mais velho desse blog e de toda a maternidade se duvidar. Mas ontem ela me mostrou os dentes de novo. E pasmei comparando: alguma vez em que fiquei doente senti alguma coisa parecida com culpa, vergonha por estar doente? Nunca, nem mesmo com o HPV, que só por poder envolver sexo já deixa muita gente travada. Doente costumo sentir desânimo, carência, tédio, chateação por não poder fazer alguma coisa que queira, vontade de ficar boa logo - às vezes até alívio por poder descansar um pouco. Mas nunca senti culpa ("Ó-meu-deus, não vou contar pra ninguém que estou gripada!"), nem percebi ninguém me acusando de nada ("ah, olha só ela, que horror, ela não se cuida direito..."). Se há quem fale isso, o tom normalmente é outro, é o de ajudar, de te mostrar que era bom você se cuidar um pouquinho mais, não exagerar com trabalho, farra (ou falta de) etc., não de acusação - pelo menos não desta acusação que tô tentando falar. Interessante este "mudo discurso social": por que cuidar de si importa tão menos? Pelas premissas (cuidar de si é natural do egoísmo humano; temos que ser impelidos é a cuidar dos outros)? Pelas conseqüências (se você não cuidar de você mesmo quem suportará as onseqüências é você, então o problema é seu, mas se não cuidar do filho, é ele, e isso é injusto)? Pode ser, pode ser.
E enquanto Manú se recupera, eu tento também me recuperar, varrendo mais esse fantasminha inesperado do meu horizonte. Fantasminha muito perigoso pra mim, diga-se, pois me ataca justamente na jugular de algo que duramente conquistei nos últimos tempos e que vem me amortecendo nesta passagem pro universo materno: ter encontrado, ou achar que encontrei, o meu jeitinho próprio de ser mãe da Manú. Um jeito que aposta na simplificação, na leveza, na despreocupação (com tantos minimozinhos detalhes, recomendações e regrinhas), na aceitação dos meus limites e dos dela; na crença que um banho por dia, creme contra assadura, nossa alegria e nosso esfrega-esfrega de todo dia já seriam o suficiente pra imunizá-la de tudo. Nem tudo, pelo visto. O segredo parece estar - mais uma vez, de novo e também aqui - no velho, bom e tão só eventualmente atingido equilíbrio. Nem tão chata nem tão borrachona. Nem tão neurótica nem tão let it be. Nem só micróbios nem só vitamina "s". Nem só casa nem tanta rua. Nem tantos casaquinhos nem tanta perna de fora. Nem a mãe que faz tudo errado nem a mãe que faz tudo certo. Sempre a mãe que tenta. (:
ps: acima um momento delicioso da gente pra ver se a energia boa da foto enxota de vez esse baixo-astral dessa bronquite.

2 comentários:

disse...

Gabi,
Vc é mesmo incrível!
Eu tão no "engenho de dentro" e vc lá "no vento do arpoador"...
Saúde para as garotas!
beijos, Rê.

Dani Guima disse...

Bia,
fica cada vez mais chocante para mim: de fato, quando te leio, me leio. Tenho passado por uma culpa danada, adoeci até no último mês de várias coisinhas psicossomáticas, porque resolvi desmamar a Rafaela. Ela que já vinha dando sinais de querer parar de mamar, de brincar com o peito, de largar a mamada se qualquer pessoa chegasse no lugar. Enfim, dando todos os sinais que já era hora. É chegar uma gripe a já acho que foi porque parei de amamentá-la... qualquer coisa, é culpa minha! PQP!!! Que saco! Por que nos tornamos nossos maiores algozes? Não tem mãe perfeita. A melhor mãe que a Manú pode ter é a Bia. A melhor mãe que a Rafaela pode ter é a Dani. Não tem conversa! E a gente é a melhor mãe que a gente consegue ser! Sim, o equilíbrio é a melhor medida. E acho que uma boa dose de humildade também, para a gente não se sentir tão "deusas" capazes de reger as reações físicas, o sistema imunológico, os vírus, bactérias e o clima do dia... não depende de nós! Isso, no fundo, é mania de controle. A verdade é que não há controle. Há apenas como viver um dia de cada vez, fazendo o melhor que podemos, com alegria e confiança na vida e em Deus!

Beijos, Bia!

E melhoras - tomara que breves - para a Manu!

Dani.