terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Viva João!

Dividindo coisa linda com vocês, ainda na alegria do nascimento do filhote da Mari, o João.
Carta de Hélio Pellegrino a Otto Lara Resende falando do nascimento da filha dele.

"Otto, meu querido amigo,

Nasceu Maria Clara, minha filha. Ela nasceu no dia 26 de novembro, tem alguns dias, portanto. Não lhes comuniquei nada, por enquanto, porque os fazia participantes silenciosos e solenes do Acontecimento. Há fatos – de preferência os mais irredutivelmente humildes – cuja verbalização é como que uma confissão de fraqueza, de isolamento e solidão. Sei que é assim mesmo, que nós, os homens, estamos por natureza impedidos do conhecimento sem palavras. Mas por sobrenatureza nos comunicamos, na Comunhão dos Santos, e esta é a razão por que os senti comigo no banquete da Efusão, do Mistério e da Humildade, quando do nascimento de minha filha. Aliás, o acontecimento é de tal maneira perfeito, exemplar, de tal maneira está pré-formado na sua antiguidade antiguíssima, que nada há que falar, assim como nada se fala quando a noite sucede o dia, quando as estações se sucedem ou quando os Mistérios da Vida e da Morte nos colhem de repente. Não estou comunicando a você o nascimento de minha filha. Que entre nós, sábios de amizade, se dispensem os cerimoniais humanos e se cedam ao signo e ao símbolo da própria Vida, que é calada. Para você, como minha filha é antiga! Como você a conheceu, sempre, em mim, na força de minhas contradições que buscavam expressão, na poesia de meus poemas, na minha crença em Jesus Cristo , na minha amizade, na minha tristeza, na minha vida! Ela era esperada, ela existia no meu Amor, nesse mesmo Amor que nos levantará da poeira dos tempos e nos suscitará a Unidade perene. O nascimento de uma filha é como o nascimento de um poema. E a poesia existiu anterior a nós mesmos, pairou sobre as águas, no princípio do mundo. Eis que conto para você uma velha história: nasceu minha filha. Ela se chama Maria Clara. Ela por um momento teve o mundo nas mãos, e os campos e os seres da terra se alimentaram de usa inocência. O pai, por um instante, vive seu coração nu, no berço, despido de tudo quanto é acessório, pequenino, fragilíssimo, ainda perfumado, sonolento e saudoso das searas eternas. Você, que tem minha amizade, será o padrinho de minha filha."

Um comentário:

Mariana disse...

Ai que lindo, lindo, lindo!!! Chorei ao ler sua carta, chorei agora ao ler o post! De novo! Porque o nascimento é mesmo um renovar da força do amor. Meu amor pela vida cresce a cada dia, a cada olhar para o meu pequeno anjo!