quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O tamanho da ajuda que você precisa


No meio do caminho da maternidade tem uma pedra - uma não, um monte, mas há uma especialmente penosa: as babás. Não me refiro à busca por uma boa, às dúvidas de qual esquema montar com ela, ao incômodo de conviver, mais perto do que nunca, com os abismos de oportunidades sociais/econômicas tão injustas etc. Mas, antes, falo da angústia que dá a questão de se assumir precisar ou não de ajuda (remunerada) pra cuidar da sua cria; ainda mais no começo; ainda mais durante a licença-maternidade.

Nessa história, a toda hora sobe do ralo o cheio de carniça das recriminações e, claro, da culpa, muita culpa. Ainda assustadoramente muito forte por aí falas do tipo "eu é que não botei filho no mundo pra babá criar!", "ah, deixando na mão de babá é fácil ter filho!".

Na minha modesta opinião, são estas frases mal-construídas e que dão margem à muita confusão na cabeça da gente. Desnecessária e sofrida.

Primeiro que criar um filho há de ser algo bem além de dar banho, vestir, trocar fralda, levar pra brincar, dar comida, velar sono. Tudo isso, claro, faz parte, ainda mais se tratando de um recém-nascido, mas o cerne do negócio é, intuo, outra coisa. Criar tem sim a ver com prestar cuidados concretos, mas principalmente com dar amor, aconchego, limites, orientação, aceitação, presença (muitas vezes não necessariamente obreira).

Temos que admitir, e respeitar, a existência de grandes mães e pais, cheios de amor pra dar e talento pra formar serezinhos muito bacanas, e que, por um motivo ou outro, vão precisar delegar, em maior ou menor grau, essas funções.

Segundo que ter filho, acho, não precisa ser imprescindivelmente uma coisa difícil ("com babá é fácil ter filho!"), precisa? Normalmente já vai ser duro e ralante de qualquer jeito, mas isso é pra ser minimizado e não cultuado, não?

Enfim, mais uma vez tá aí uma cultura que, criando rótulos e reduções, embota a capacidade de cada um de, a partir de si e do seu possível, pensar e encontrar sua própria forma, só sua, de fazer suas coisas e levar sua vida.

Quem é esse bebê que chegou? Exige muito ou nem tanto? Mama e dorme ou arde de cólica? Dorminhoco ou insone? Quem é você-mãe? Ou melhor, que mãe você pode e você quer ser? Tem facilidade pra cuidar dos outros? Tem pouco sono ou precisa dormir muito? É tarada pelo trabalho ou nem pensa nisso? Tem uma vida intensa fora de casa ou é naturalmente caseira? Até que ponto quer/precisa mudar? Até que ponto consegue, de um modo sadio, se sacrificar? Quem é o pai? Está ao lado? Entendeu que é pai ou viaja achando que o problema é mais seu? E a sua família? É gente próxima, que vai botar a mão na massa com você, ou indisponível, inexistente até?

No meu caso, eu morria de medo dessa parte operacional da maternidade. Meu contato anterior com RNs era praticamente zero. O pai idem. Tinha medo de coisas simples, como dar um banho ou ninar pra dormir. Tinha pânico, principalmente, dela chorar demais, dela não dormir, de eu pirar, sufocar com tanta responsabilidade e indisponibilidade.

Contratamos uma auxiliar de enfermagem, a Vera. Era pra passar um mês e acabará, no fim desse mês, passando três e meio. Pra gente (como somos, nossas famílias, nossos arranjos) foi fundamental. Mas eu me senti várias vezes entupida de angústia até conseguir ajustar o tamanho da ajuda que eu queria. Eu não queria, não quero, ser coadjuvante na vidinha da Manú! Por razões nobres e outras nem tanto, quero o protagonismo (no máximo, dividir as luzes com o pai...)! Então, quando a Vera assumia, tinha o medo básico dela não cuidar tão bem quanto eu. Mas tinha, muito mais, horror à idéia dela cuidar da Manú bem melhor do que eu. Tiveram dias em que, acomodada, deixei demais com ela. Outros em que, por insegurança e preconceito, deixei de menos e acabei estrimbuchava sem necessidade.

Fui aprendendo...

Arrumei na minha cabeça que a Vera estava aqui pra me poupar de duas coisas (e com relação a todas as outras o problema é só meu e o do pai mesmo): da exaustão de se cuidar, sem trégua, de um bebê e da minha ausência perigosa nas coisas essencias da minha vida que não têm a ver com a Manú. Claro que aí o xis: o que é realmente importante e o que não é tão importante, mas capricho e relutância pra admitir que a vida mudou; e onde termina o cansaço típico e do qual não se deve escapar e onde começa o esgotamento que vai me deixar histérica e perdida. Caso a caso, fui tentando, venho tentando, me afiar cada vez mais nesse discernimento, achando o nosso caminho.

De qualquer jeito, presto aqui a mais que merecida homenagem à super Vera, que tanto ajudou no desabrochar dessa mãe aqui! Acima, retratinho dela com Manú.

3 comentários:

Dani Guima disse...

Putz Bia!!!

Sinto-me com voz!!! Que maravilha ler seus textos, cara!

De fato, essa história de babá traz tantos questionamentos... aprendi que ela é só um cuidador a mais na vida da Rafaela. Ela não elimina a minha presença, ou a do Kico, apenas vem somar. É MAIS amor! E não menos. É um plus!

Eu, particularmente, amo trabalhar. Amo meus momentos de namoro com meu marido. Amo ir ao cinema. E tenho, pouco a pouco, encontrado espaço na minha vida para viver essas coisas todas de novo. E isso não faz de mim uma mãe ausente. Vou encaixando. Deixo para sair quando a Rafa dorme. Vou em casa todos os dias no almoço. Dedico todo os meus fins de semana e feriados pra Rafaela.

Estou com ela por uma quantidade de tempo menor, desde que a licença acabou. Mas lhe asseguro: o tempo que temos juntas agora é de muito mais qualidade. E ela percebe isso. É uma criança feliz, que se sente amada, aceita e desejada. E eu continuo a gostar de farra, de cinema, de namoro, de individualidade.

Nada melhor do que uma babá de confiança para te dar espaço e te apoiar a descobrir essa sintonia fina!

Vivas às babás!

Bjs, Dani Guima.

Atelier Ana e Bia disse...

Bia, adorei o que vc escreveu!!
É assim mesmo que a gente sente. A Rafa completou 4 meses e eu continuo me perguntando: e a babá o que vou fazer ??? Como vc disse, como vai ser o "esquema".
Por estas e outras que auqles encontros como o de ontem funcionam como uma terapia, ali a gente percbe que temos as mesmas dúvidas e angustias e estamos indo no caminho certo!
bjs para vc e Manu.
Cris e Rafaela

Mariana disse...

Quando não tenho "Arlete", tenho "Bia"!!!